Esta entrevista foi concedida no ano de 2006, para alunas do 2º ano do Curso de Letras
ENTREVISTA:
Tatiana Belinky1. De que maneira podemos incentivar as crianças e os adolescentes para a leitura?
Tatiana Belinky: Eu acho que tem de expor o livro à criança e expor a criança ao livro. A criança deve viver cercada de livros. A família deve ter livros em casa. Os pais devem ler. Se a criança não ver o livro, não vai se interessar.
2. Como a Internet e a televisão influenciam no processo da leitura?
Tatiana Belinky: Eu sou do tempo do livro.
3. Tem campo para todos os meios de comunicação?
Tatiana Belinky: Claro! E o livro não vai acabar. Mesmo com a televisão, a Internet, o livro eletrônico, sempre haverá o livro de papel, aquele de segurar na mão.
4. A senhora já fez adaptações de obras do Monteiro Lobato para a televisão?
Tatiana Belinky: Sim. De 1951 até 1968. Fiz adaptações do 'Sítio do Pica-Pau Amarelo' e de muitos outros livros.
5. Como ocorre a adaptação de um livro para um programa de televisão? Como as crianças encaram isso?
Tatiana Belinky: Muito bem! As crianças sempre encararam bem. No meu tempo, havia televisão, cinema, rádio, não tinha Internet. Com as adaptações, eu promovia o livro. O roteiro para televisão era assumidamente para promover o livro. Sempre havia uma corrida do público para a livraria, em busca dos livros e das histórias que eu adaptava. E as crianças liam, comentavam, criticavam e achavam o livro melhor que a televisão e vice-versa.
6. Um dos grandes sucessos editoriais dos últimos anos, Harry Potter está disponível em livro e em filme. O que a senhora pensa sobre esses formatos?
Tatiana Belinky: São válidos. Se for de boa qualidade, vale tudo. Não existe nada melhor, nem pior. Assim como não existe gente melhor, nem pior. Cada caso é um caso. Se for de boa qualidade, qualquer veículo é bom.
7. Qual é sua opinião em relação aos livros clássicos que são reescritos, utilizando uma linguagem mais atual?
Tatiana Belinky: Eu prefiro o original. Quando eu era criança e pré-adolescente, li adaptações de grandes clássicos, como Dom Quixote e de vários outros, mas isso foi um aperitivo para, depois, maior, ler o texto original. Se for uma adaptação inteligente e interessante, vai despertar a vontade do público de ler o original. É importante que a adaptação seja feita por um bom escritor para tenha qualidade.
8. O que Monteiro Lobato significou na sua vida pessoal e profissional?
Tatiana Belinky: O primeiro texto que tive em mãos, aos dez anos de idade, no Brasil, foi um do Monteiro Lobato. Mas não era livro, nem era o Sítio do Pica-Pau Amarelo. Tratava-se de um folheto do Laboratório Fontoura sobre o Jeca Tatu, que foi escrito por ele. Depois, li todos os seus livros e fiquei fascinada. Conheci o Monteiro Lobato quando já era casada e tinha filhos pequenos.
9. Qual é o segredo de uma boa literatura infantil?
Tatiana Belinky: Ser de boa qualidade e interessante. Quer dizer, a condição sine qua non é que a criança goste. Mas, eu, a autora, também tenho de gostar. Não há veículo ruim, a carne é que tem de ser boa.
10. E qual estilo literário é o preferido entre o público infanto-juvenil?
Tatiana Belinky: Cada caso é um caso. Não há dois escritores iguais, nem dois livros iguais. Quando me perguntam se eu prefiro isso ou aquilo, música clássica ou popular, eu digo: 'Depende do dia e da hora. Tem dia que prefiro a música popular, outro quero ouvir a clássica ou até mesmo o rock and roll'.
11. Tem alguma experiência recente que gostaria de relatar?
Tatiana Belinky: Em 84 anos de vida, eu tenho um milhão de experiências para contar. Mas, o que eu gosto mesmo é de escrever. Eu leio sem parar, desde os quatro anos de idade. Converso muito com crianças, com bibliotecárias, professores, pais. É uma delícia! Muito bom! Criança é um público maravilhoso, interessado, inteligente. Nunca se deve subestimar a inteligência de uma criança. Fazem perguntas que precisamos estar prontos para responder ou honestos o suficiente para dizer 'não sei'. Uma menininha de nove anos me perguntou se eu era a favor do aborto. As crianças sempre foram rápidas. Hoje em dia elas são 'bombardeadas', porque ouvem e vêem muita coisa e captam. Algumas coisas elas entendem, outras não e querem saber.
Ariadne Liberato Rosa de Oliveira
Cintia G. Tessari
Dalila Aparecida da Silva
Hercília Oliveira
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