14 de dezembro de 2010

LINGUAGEM E IDENTIDADE: Variação Lingüística e Norma Padrão

Competência de área 8: Compreender e usar a língua materna, geradora de significado e integradora da organização do mundo e da própria identidade.

Embasamento teórico

Reflexão Acerca das Variedades Lingüísticas e de Registro

A fala constitui, no dia-a-dia, a atividade mais usada pelos homens para se comunicar. Ela é espontânea e direta. A escola sempre deu mais importância à escrita. E razão disso está na crença generalizada de que a escola é lugar de aprender à escrita. Os PCNs, a partir de 1990, vêm mudando esta questão. Os PCNs (2002) dizem em que pensar Língua Portuguesa inclui não só literatura e gramática, mas também suas expressões escrita e oral. A oralidade deve ser partilhada pelos responsáveis de Língua Portuguesa tais como professores, escritores, secretários de educação etc.
O estudo da fala tem um aspecto central, assim como na escrita: a questão da variação. A variação dialetal e a de registros são as mais usadas no ensino de oralidade nas escolas. A variação dialetal pode gerar discriminação ou preconceito se não for bem entendida. É importante mostrar aos alunos que, na língua falada, o português padrão não remete a falantes reais. Todas as pessoas possuem uma variedade lingüística. O ensino da oralidade nas escolas deve privilegiar as situações comunicativas do aluno, as estratégias organizacionais de interação próprias de cada gênero, os processos de comunicação do falante etc.
Normalmente, as escolas trabalham a noção de gênero oral superficialmente. Apenas o nome do gênero é importante saber. Mas isso é uma prática equivocada. Aprender a usar a fala adequadamente dentro de um gênero específico é muito importante para o aluno, pois isso o prepara para a interação com o outro. Dolz & Schnewly (1998) se preocupam com a elaboração de propostas didáticas de alguns gêneros orais formais e públicos (exposição oral do aluno, seminário, debate regrado, e entrevista radiofônica dentre outros). Essa visão contempla os principais estudos da fala e fornece os principais subsídios para o ingresso do aluno ao mundo da oralidade. Dolz & Schnewly (2004: 80) diz “toda introdução de um gênero na escola é resultado de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem”.
Apresentam-se, a seguir, algumas atividades pertinentes ao desenvolvimento das competências e habilidades propostas nesta unidade.
Partimos de algumas músicas e um texto futebolístico como formas de representação da oralidade em formulações de gêneros a partir da escrita. Com isso, queremos mostrar aos alunos as variáveis lingüísticas e de registro com os quais convivemos no dia-a-dia. Nas músicas, podemos perceber as variedades lingüísticas. Podemos distinguir quem é o falante, a posição dele na sociedade, sua cultura, o seu meio social, seu poder econômico etc. No texto futebolístico, por sua vez, percebemos mais as variações de registro, as muitas formas de falar, os neologismos impregnados na Língua Portuguesa, as influências culturais estrangeiras entre outros aspectos.
Nosso objetivo é mostrar ao aluno a profusão de variáveis lingüística e de registro que há no país dado a sua extensão e população, de forma a valorizar a fala, independente da noção de “erro” tão preconizada pela escola tradicional. Mesmo a Língua dita Padrão não é alcançável pelas pessoas mais instruídas, pois nelas mesmas contém raízes lingüísticas profundas que as seguem durante toda a vida.


Habilidades (25, 26, 27)

H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros as marcas lingüísticas que singularizam as variedades lingüísticas sociais, regionais e de registro.

Leia a Poesia e as  músicas abaixo:

O Poeta da Roça (Patativa do Assaré)


Sou fio das mata, cantô da mão grosa
Trabaio na roça, de inverno e de estio
A minha chupana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de mio.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestrê, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu seio o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo da roça e dos eito
E às vezes, recordando feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.


Cuitelinho (Renato Teixeira)
Composição: Folclore recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó


Cheguei na beira do porto
Onde as onda se espaia
As garça dá meia volta
E senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia,ai,ai
Ai quando eu vim
da minha terra
Despedi da parentália
Eu entrei no Mato Grosso
Dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes batáia,ai, ai
A tua saudade corta
Como aço de naváia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
E os óio se enche d´água
Que até a vista se atrapáia, ai...


A reflexão que podemos tirar das músicas é a de mostrar aos alunos as marcas lingüísticas e regionais com as quais eles mesmos estão acostumados a vivenciar no dia-a-dia. A proposta aqui é fazer com que o aluno identifique na sua cultura ou no seu meio social as variantes lingüísticas usadas pelos outros habitantes do Brasil, já que nosso país tem proporções continentais e as pessoas estão dispersas em regiões longínquas, que pelas leis naturais, diversificam a cultura e a língua.

Proposta de Atividades:

1º ) Analise os efeitos da sonoridade e ritmo nas letras acima descrita. Tendo como referência a norma padrão, escolha um dos dois textos sendo:  O Poeta da Roça ou Cuitelinho e redija um o texto dentro dos padrões estabelecidos pela norma culta e compare a sonoridade e ritmo.

2º ) Com base no texto redigido na norma culta, cada aluno vai cantar ou ler, uma estrofe e pontuar da passagem lida qual regra gramatical é pertinente para adequação na norma padrão.

3º ) Escolher uma região (norte,nordeste,sul, sudeste e centro-oeste ) e fazer um levantamento lingüístico da região. A pesquisa pode ser  de jornal, revista, vídeo ou teatro). Após o levantamento, aproximar a norma culta e pontuar as diferenças com base na gramática.

4º ) Assistir o jornal nacional e escrever a qual norma ele se aproxima , padrão ou não padrão e responder. O programa que você assistiu é compreendido em todo o território nacional? Justifique sua resposta com exemplos.


H26 Relacionar as variedades lingüísticas às situações específicas de uso social.

Leia outra música:

Chegança (Antônio Nóbrega e Wilson Freire) 


http://www.youtube.com/watch?v=x2GDYP26mNc

Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
Ianonami, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-o, Tupinambá.

Depois que os mares dividiram os continentes
quis ver terras diferentes.
Eu pensei: "vou procurar
um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar".

eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro...
botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.

Mas de repente
me acordei com a surpresa:
uma esquadra portuguesa
veio na praia atracar.
De grande-nau,
um branco de barba escura,
vestindo uma armadura
me apontou pra me pegar.

E assustado
dei um pulo da rede,
pressenti a fome, a sede,
eu pensei: "vão me acabar".
me levantei de borduna já na mão.
Ai, senti no coração,
o Brasil vai começar.

Esta música mostra como podemos trabalhar com os alunos as diferenças lingüísticas e sociais contempladas na abrangência cultural a qual todos nós brasileiros estamos inseridos. O uso da língua vai está sujeito a muitas condições vivenciais de quem fala. O indígena, o sertanejo, o gaúcho, o paulista, o interiorano, o nordestino, etc. falam e se expressam do seu modo e, por isso, temos a necessidade de ensinar os alunos a interpretarem o uso lingüístico para uma boa comunicação entre eles. Também, o de acabar com o preconceito lingüístico muito comum no país.


H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.


Proposta de Atividades:

1º ) Com base nos levantamento lingüísticos apresentados no trabalho de variedades lingüísticas, identifique quais influências a língua portuguesa sofreu na região escolhida.

2º ) Redija um texto argumentativo de no máximo 2 folhas contando as influências lingüísticas  predominantes da região escolhida.

3º ) Interagindo com outro grupo, pontue as diferenças encontradas na análise das variedades lingüísticas, e pontue no mínimo 3 regras gramaticais que se apliquem, quando na norma padrão e apresente para a sala.


Leia o texto abaixo:

         História dos empréstimos no léxico do futebol


Por mais que os puristas condenem a entrada de expressões estrangeiras no léxico do português, tal processo é perfeitamente natural em qualquer língua do mundo, desde que o seu falante esteja sujeito ao contato com outras línguas. No caso dos empréstimos ligados ao futebol, em sua maioria tomados do inglês, alguns sofreram adaptação à fonologia do português e se consolidaram no uso; outros foram sendo substituídos gradativamente por termos equivalentes já existentes no português ou criados a partir de processos morfológicos da língua portuguesa.
O futebol, esporte criado na Inglaterra, chegou ao Brasil através de marinheiros ingleses que o praticavam na praia, companhias inglesas cujos empregados formavam times, e jovens abastados que iam estudar no exterior. Charles Miller e Oscar Cox fazem parte deste último grupo, e segundo os historiadores, são os responsáveis pela criação dos primeiros times de futebol no Brasil. Ambos filhos de ingleses, foram estudar na Europa e trouxeram na bagagem de volta as bolas e as regras do esporte bretão -- Charles Miller em São Paulo e Oscar Cox no Rio de Janeiro -- no final do século passado.
No começo de sua prática no Brasil, o futebol era um esporte de elite, jogado por estudantes ricos ou por ingleses. Na imprensa, muitos dos termos utilizados na reportagem sobre os jogos eram em inglês[1] : "O 'match' de hoje, ..., vae ser uma festa brilhante." (O Estado de São Paulo, 2/10/1910); "Os 'goals' do Palmeiras foram feitos por Irineu e Mario Egydio" (Idem); "Pode-se ... afirmar que esta tarde as arquibancadas regorgitarão de amadores do 'foot-ball'." (Idem); "O 'team' do Ipiranga ... apresentou-se magnificamente treinado, com uma linha de 'forwards' velozes, com uma defesa hábil e segura." (O Estado de São Paulo, 14/11/1910); "Servirá de 'referee' o sr. A. Kirschner, do S. C. Germânia." (Idem); "Mário envia alguns 'shoots' em 'goal', os quais são defendidos por Bozzato." (O Estado de São Paulo, 25/11/1919).
Nas reportagens do começo deste século, ou seja, dos primórdios do futebol no Brasil, já se encontram alternâncias entre termos ingleses e seus equivalentes em língua portuguesa: "Foi convocada ... uma reunião extraordinária do conselho desta liga, para resolver sobre uma reclamação a propósito do último jogo[2] ." (O Estado de São Paulo, 9/11/1910); "O juiz, sr. Urbano de Moraes, ... poz em evidência as suas excellentes qualidades de 'referee'." (O Estado de São Paulo, 14/11/1910). Nesses casos de termos já exitentes em português, os vocábulos ingleses foram naturalmente aos poucos caindo em desuso.
Vários termos emprestados do inglês, após adaptação fonológica ao português brasileiro, foram definitivamente consolidados no uso dos falantes (Ex.: futebol, time, chute). No caso do vocábulo que designa aquilo que o torcedor mais quer ver (ou seja, a bola na rede, o gol), as coletâneas a seguir mostram que a grafia do termo em inglês persistiu apenas na primeira metade do século: "o 'goal' de Caxambú (o segundo da série)" (dizeres sob uma foto no jornal A Gazeta Esportiva, de 20/09/1943); "Gôl! Baltazar (escondido pelo arqueiro guarani) arremata e consigna o tento da vitória" (dizeres sob uma foto na revista A Gazeta Esportiva Ilustrada, de março de 1954). No entanto, a transformação na fala provavelmente se deu muito antes que na escrita, conforme mostra a seguinte ocorrência do vocábulo derivado morfologicamente de "gol" para designar aquele que o defende: "O goleiro do Ipiranga machuca-se e o jogo é suspenso por 2 minutos." (A Gazeta Esportiva, 15/12/1930).
Acima, vemos um dos exemplos de termos em português que conviveram por muitos anos com os seus equivalentes em inglês na imprensa brasileira. Os termos "goal-keeper" ou simplesmente "keeper" foram tão largamente usados pela imprensa que chegam a aparecer no dicionário Aurélio como sinônimos de goleiro, com uma grafia "aportuguesada" (golquíper, quíper): "Salta o 'keeper' guarani e empolga a pelota, com classe e elasticidade." (dizeres sob a foto de um goleiro realizando uma defesa, na Gazeta Esportiva Ilustrada de março de 1954).
o começo do século já ocorria a ida de jogadores brasileiros para o exterior, onde o futebol se profissionalizou mais rapidamente e eles eram melhor remunerados. Além disso, times estrangeiros realizavam jogos amistosos ou participavam de torneios no Brasil. E em 1930, começam as disputas dos campeonatos mundiais de futebol, sendo o Brasil o único país a participar de todas as suas edições até os dias de hoje. Com isso, termos de outras línguas, como o francês e o espanhol, foram entrando no nosso léxico futebolístico: "... realizaram-se ante-hontem... os 'matches' de desempate entre as ... 'équipes' [do francês équipe] do Ruggerone F. C. e da A. A. Barra Funda." (O Estado de São Paulo, 25/11/1919); "O centro-avante alvi-verde focalizado pela nossa objetiva no momento de apontar às rêdes, já livre da zaga [do espanhol zaga] contrária." (dizeres sob a foto de um atacante marcando um gol, na Gazeta Esportiva de 20/09/1943). Nessa última coletânea, temos o exemplo de um termo em português que substituiu o vocábulo inglês ("centro-avante", no lugar de "forward" ou "center-forward") e de outro que convive até hoje com o termo de origem inglesa na fala de alguns locutores de futebol: "Guariba, dando uma 'entrada' contra um 'back' do Minas, recebe forte pontapé." (O Estado de São Paulo, 2/11/1919); "O árbitro deu falta do beque central a favor do tricolor." (narração de Luciano do Valle do jogo entre Ponte Preta e São Paulo, pela TV Bandeirantes, no dia 21/11/1999). Mas o próprio Luciano do Valle alterna o uso desse termo com aquele que é mais corrente para designar o setor defensivo de um time: "França meteu a bola no costado da zaga..." (idem). Esse locutor apresenta algumas peculiaridades em sua narração: ele é um dos poucos que ainda usa um termo de origem espanhola para designar o meio-campo (meia-cancha); por outro lado, ele também é um dos poucos narradores que prefere o uso da expressão em português equivalente ao vocábulo de origem inglesa, amplamente empregada pelos falantes brasileiros para designar uma falta dentro da grande área (Luciano do Valle sempre diz "penalidade máxima", enquanto a maioria dos falantes diz "pênalti").
















A proposta do texto é reconhecer, mesmo que pela comparação ou distorção com outro texto, a língua padrão a fim de estabelecer uma comunicação igualitária e compreensível por todos. No presente texto temos os empréstimos de palavras estrangeiras para o uso futebolístico. Isso se deve pelo fato de que o futebol foi inventado em outro país e não nesse. Com o tempo muitas expressões são aportuguesadas ou englobadas no nosso léxico. O nosso trabalho é o de incutir nos alunos a importância de se falar uma língua que todos entendem e o reconhecimento das outras variantes lingüísticas, no caso, o português padrão e o português não-padrão. Além, também, do reconhecimento das variantes de registro, comum em todo país. O intuito dessas atividades é fazer com que os alunos identifiquem, relacionem e reconheçam as variantes lingüísticas sociais, regionais e de registro, bem como, a percepção de mundo e de si mesmo (identificar-se no mundo em que vive). Esse trabalho envolve as questões lingüísticas que serão trabalhadas com os alunos por meio de debates, discussões e perguntas reflexivas.


1º ) Redija um texto argumentativo da influência do Inglês na língua portuguesa.

2º ) Pensando nas novas tecnologias e formas de comunicação redija um artigo sobre a influência da informática na língua portuguesa. 
3º ) Com base em todos os gêneros e tipos lingüísticos estudados até o presente momento. Elabore um texto de síntese definindo os conceitos de:

·        Variedade lingüística
·        Variedade social
·        Variedade regional
·        Variedade padrão ( ou língua padrão )

De exemplos de vídeos, artigos, músicas , teatro, poema dentre outros gêneros.

Gisele Barradas das Virgens
José Ailton Farias da Silva  

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